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““Na primeira vez que ele me bateu eu estava grávida do segundo filho. Eu fiquei sem chão”, conta servidora pública

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“Na primeira vez que ele me bateu eu estava grávida do segundo filho. Eu fiquei sem chão. Eu acreditava que o amor que a gente sentia era muito forte e que ele nunca teria coragem de chegar ao ponto de me agredir daquela maneira”. A história da servidora pública Lucirene Oliveira encontra eco na de milhares de mulheres que sofrem todos os dias o drama de conviver com alguém possessivo e violento.

Na época, ela não trabalhava fora de casa, tinha filhos pequenos e dependia economicamente do marido. Ele pediu, ela perdoou, mas as agressões continuaram por 13 anos. “Eu tinha a esperança que ele iria mudar, que iria perceber que estava errado e tudo voltaria ao normal. Mas essa esperança foi morrendo com o passar do tempo”, lembra, revelando que ele tentou matá-la com uma faca. Foi quando resolveu dar um basta e o denunciar.

A estudante E.B também é uma das vítimas da violência doméstica. “No começo ele era bom para mim, carinhoso… Mas ele começou a beber e passou a bater em mim. Ele tentou me matar e eu denunciei. Eu não tenho tanto medo por mim, mas precisava proteger meus filhos e minha família”, explica, mas revelando que ainda sofre constantes ameaças de morte.

Após julgamento, o ex-companheiro dela cumpriu seis meses de pena em regime fechado e agora cumpre medida protetiva. “Hoje eu me sinto segura, me sinto leve. Acho que fiz a coisa certa e a Justiça também”, assegura. Seja por coragem ou por medo, a denúncia é o primeiro passo para a liberdade.

Justiça prioriza segurança das vítimas

No Tocantins, cerca de 6.500 ações estão em tramitação. As varas e juizados especializados no combate à violência contra mulher têm concentrado esforços para agilizar os processos e garantir segurança às vítimas. “Nós queremos mostrar para essas mulheres que elas não precisam se submeter à violência, que elas têm direito à igualdade e proteção”, garante o juiz Adriano Gomes de Melo Oliveira, da 3ª Vara da Família em Palmas.

Dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP) apontam que, em 2018, as Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (DEAMs) registraram mais de três mil denúncias. Só em 2019, já são quase 600 casos.  “Cerca de 80% dos casos que a gente tem são de mulheres que já não suportavam mais as agressões, as humilhações e resolveram denunciar”, conta a delegada Suzana Fleury Orsine.

Segurança, educação e empreendedorismo

Depois que resolveu se libertar, Lucirene voltou a estudar. Mas para conseguir fazer o EJA (Educação de Jovens e Adultos) em Monte do Carmo, onde mora, ela precisou movimentar a cidade com um abaixo-assinado para conseguir formar a turma. Aos poucos, mais pessoas se interessaram e, como a escola era pequena, ganharam do Estado uma nova e mais ampla. “Hoje essa escola funciona em tempo integral. Meus filhos e netos estudaram lá também”, lembra, orgulhosa.

Mas Lucirene não parou por aí. Terminou o ensino médio, foi para faculdade e se formou em Ciências Contábeis. Após 20 anos da separação, ela se define: “Sou uma sobrevivente de um casamento que não deu certo, uma vitoriosa por ter conseguido estudar e montar uma escola onde, não apenas meus filhos, mas outras crianças estudam. Uma escola que gera emprego para muitas pessoas em minha cidade. Hoje eu sou feliz”.

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